quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Legado de Guerreiros

Eu acho... que quando decidi fazer o curso de jornalismo, não estava pensando em ganhar milhões em dinheiro com isso. Na verdade, em um primeiro momento, nem me passou pela cabeça o prestígio ou a “fama”. Não como jornalista!
Minha escolha veio com a certeza de que seria o melhor a fazer com tudo o que tinha nas mãos: habilidades, idéias criativas, determinação e autoconfiança. Talvez tudo esteja diretamente ligado ao fato de eu ser escritor. É claro que tudo se encaixa. Mas por que não um diploma de Letras? Afinal, quem escreve para entreter é bem mais livre do que aqueles que escrevem para informar. A obrigação, as regras, a bendita pirâmide invertida que não deixa o sol nascer antes de falar da bala perdida na cabeça do policial, ou do som da chuva que não pode ser mencionado na noite em que os bandidos do Morro do Alemão fecharam a Linha Amarela...

Ainda assim, o jornalismo tem uma força que nenhuma outra profissão se dá ao luxo de ter. Quem se entrega à informação acaba por ser um pouco de “cada coisa”, uma espécie de sábio, que mesmo sem especialidade em nada, entende de tudo. A palavra certa seria multipluralidade. E dinâmica! O que eu sempre digo quando perguntam “por que jornalismo?”: porque é dinâmico. Não há como enjoar do que se faz. Ora estamos aqui, ora lá, um dia fala-se apenas português e, em outro, quem sabe, já não foi enviado para ser correspondente na China?

A informação acompanha o mundo, sempre mudando, girando sem parar. E todos precisam dela. Ninguém esquece de se informar, aliás, fazem isso até sem querer, no simples ato que a humanidade conhece por “falar”. Uma fofoca, uma conversa, um bate-papo... É o suficiente para surgir a informação e daí para frente ganhar o mundo percorrendo casas e salões, ruas e fios de telefone, lotando caixas de e-mail e virando comentários em blogs (como este aqui).

E cá me pego tentando dizer se vale ou não vale a pena ser jornalista... porém, essa é uma questão que pode não ser respondida. Talvez Willian Bonner diga que vale (pela fortuna que ele ganha com isso) e os familiares do Tim Lopes digam que não. Quando lembro que tenho uma cópia do currículo em cada empresa de comunicação ao meu alcance (meu nome deve estar em quase todas do Rio de Janeiro) e ninguém me chama, penso que só vence essa disputa quem tem fortes conhecimentos (de gente, não de conteúdo).

Mas era nessas horas de questionamento que surgiam os trabalhos acadêmicos exigindo que fossemos às ruas para entrevistar, apurar, buscar e trazer informação. E aí, todas as dúvidas caíam por terra, pois o nosso coração de repórter pula enquanto olhamos para um personagem, a estrela do nosso filme, a história, o motivo da nossa existência.

Responder se foi bom ou ruim, se valeu ou não, só quando tiver passado por tudo e puder fazer um balanço dos ganhos e das perdas - isso em cada profissão. No entanto, se tentarmos encontrar, em todas as coisas que existem, vai haver algo que não pesa a nosso favor. E é justamente essa a diferença entre o que escolhi fazer e o que todos os outros fazem: enquanto a maioria pára assim que percebe que pode não dar certo, os jornalistas, mesmo cercados por incertezas, continuam seguindo em frente para checar ao máximo o rumo que podem tomar todas as suas expectativas.

Jornalista é, pois, como um guerreiro. Estes honravam seus votos mesmo quando estavam em menor número e sabiam que iriam morrer. Nós, tudo o que temos para honrar é o que move o planeta: a comunicação! Como tudo o que tiver de ser, será, o melhor a dizer é “sim, vale a pena”... eu acho!