domingo, 28 de dezembro de 2008

O Ano Novo do Resto de Nossas Vidas

Eu acho...: o que é desejar um novo ano bom? Promessas de algumas coisas que vamos cumprir e outras das quais nem lembraremos? Uma nova chance para perdoar aqueles que nos dilaceraram impiedosamente? Um novo tempo para comportamentos, estilos, mudanças? O que queremos de verdade quando desejamos um novo ano repleto de paz, saúde e amor?

A vida não é fácil para ninguém. Estamos aqui para aprender lições das quais só ficamos cientes quando deparados com elas, para entender cada semelhante, o que inclui conviver com manias, nos aborrecer com atitudes, nos ferir e agredir, sofrer com a pobreza de espírito e de estado, sermos lesados em direitos e matéria ou até para ressuscitar da morte por palavras, gestos e ações.

Nos consideramos bons por aqueles a quem ajudamos? Nos consideramos maus pelos erros que cometemos? E se a maior lição de todas for descobrir que somos aquilo que está entre o bem e o mal? O meio termo que une o nosso pior e o nosso melhor, o eu-equilíbrio que habita as profundezas de um ser que achamos conhecer plenamente: nós mesmos.

Às vezes é fácil escrever uma cartinha bonita com milhões de votos de felicidade a todos, mais fácil ainda é lê-la e encher nossos corações com a alegria do Novo Ano, do Novo Dia, do Novo Agora. Mas o que devemos considerar é a sinceridade que se revela em cada letra, quando abrimos os olhos para o que não se constrói como um mero desejo de boas festas. O Ano Novo começa a cada segundo que nos determinamos a mudar e ele nos está preparando para o que vem depois desta passagem terrena.

Não importa o lugar para onde vamos, se é o céu, ou outra vida, retornar para nosso verdadeiro lar ou ficar em um lugar de espera. Importa é termos em mente que cada coisinha, boa ou ruim, tem um propósito que desconhecemos. Uma agressão, uma violência, um assassinato, um aborto, um roubo, um espancamento, uma humilhação... agiremos como se não ocorressem? Fingiremos não sentir quando somos atacados de algum modo que nos faz perder o chão? Perdoar é tão fácil quando somos as vítimas? E condenar é tão direito quando não somos os agressores? O nosso presente, nossa dádiva de novo ano, de novo segundo, de nova chance é poder voltar atrás – nas ações, não no tempo – e reconhecer o que fizemos direito e o que de abominável podemos cometer meramente por pensamento.

O tempo é o velho sábio que conserta ou leva tudo. No entanto, nossa missão diária é perdoar o imperdoável, se arrepender do inaceitável, enfrentar o sofrível e recomeçar, se não de igual modo, mas de uma maneira que nos faça seguir certos do caminho que escolhemos, que nos torne felizes, seja juntos ou separados, seja com conhecidos ou desconhecidos, seja em conforto ou abdicação. Esquecer o passado não é tarefa simples, mas mudar o que pode ser nosso futuro é direito e obrigação. O mal é imperdoável, mas os errantes são dignos de nossa compaixão.

Todos tem porquê chorar: ausência em casa ou na vida de nossa família ou parentes, traição de esposa, namorado ou amigos, julgamentos por aquilo que as pessoas não são, malícias, agressão, mentiras de quem confiávamos, violência, seja de qual tipo for, contra crianças, contra idosos, contra mulheres, contra criminosos, agressividade de um filho rebelde, morte de uma filha irresponsável, vingança, pedidos maléficos às forças malignas contra nós ou quem amamos, um familiar mais amado do que nós, uma roda de escola que nos exclui, a tirania de alguém de quem dependemos, a falta de habilidade em esportes ou arte, a dificuldade de nos concentrar nos estudos, despedidas, saudades, crises financeiras, traumas, condições físicas limitadas. Mas os mesmos que choram e fazem chorar não merecem sorrir e fazer sorrir? Por quanto tempo iremos carregar os estilhaços de nossa humanidade ao invés de nos agarrarmos ao pedestal de nossa divindade?

Quem há de nos trazer os milagres: Deus, Jeová, Maomé, Alá, Buda, Krishna, o Universo, o Bem, a Ciência, nosso Eu interior? Isso realmente importa? E se forem todos eles juntos ou nenhum? Limitaremos o que somos a coisas que acreditamos ser? O tempo do perdão, do amor, da vida, da libertação, da paz, da alegria, do compartilhar, do refazer, do transformar, é Agora. Pode ser que morramos sem ter conseguido, sem ter tentado, tendo olhado ou escutado e deixado escapar de nós segundos depois. Mas não há como questionar que o novo tempo é agora, é o hoje. Más ações devem ser punidas, e muito bem punidas... mas, até quando? Será que passar tanto tempo condenando não nos fará perder o momento de perdoar?

Intrigas existirão, mentiras, deboches, desigualdade. Mas o quanto estamos dispostos a dar a mão aos irmãos cambaleantes? Estamos mesmo livres de estar algum dia no lugar de um deles? Podemos ter a certeza absoluta de que jamais estaremos na condição de agressor no lugar de vítimas? De certo modo, todos somos agressores, criminosos, pois temos um bem e um mal interior. Vamos justificar os erros que cometemos ou que outros cometem contra nós? Nunca! Mas precisamos encarar cada segundo de nossa vida de frente, seja para estar diante do próximo auxiliado ou daquele que nos fez mal, para exercer a caridade ou para perdoar, para pedir perdão ou para aconselhar.

O Novo Ano não sela com brindes e fogos de artifício, nem com simpatias e tradições, comidas e festejos. Não se firma com desejos de boas festas e sorrisos que podem acabar na virada do tempo. “Fazemos promessas que vamos quebrar, damos sorrisos que vão se esconder, dizemos palavras que ferem o coração”, só que é preciso entender uma coisa: a evolução total só será possível quando todos tiverem dado as mãos, acertado suas contas e seguirem rumo à verdadeira felicidade em conjunto. Isso pode significar voltar atrás em uma briga de anos, falar com quem não queremos mais, segurar as mãos de quem já soltamos um dia, olhar nos olhos de nosso assassino, de nosso violador, de nossos acusadores, ajoelhar diante daqueles que fizemos sofrer, secar as lágrimas de quem magoamos, reconstruir laços de famílias que destruímos.
Muitos vivem com a culpa, outros a esquecem, mas outros, ainda, querem transformá-la em renovação, em nova chance. Negaremos pão a quem tem fome? Água a quem tem sede? Auxílio a um cão que clama por cuidados? Presente a uma criança que tem sonhos? Perdão a quem se arrepende do que nos fez?

Assim sendo, meus desejos, ou melhor, os desejos de todos nós, são por um mundo melhor, não no futuro utópico ou no passado saudosista, mas no hoje, começando agora e recomeçando a cada momento que esquecermos a direção. Novo Ano. Novo Plano. Nova Vida. Novo ser. Que todos sejamos melhores do que imaginamos ser capazes.

Assim Seja... eu acho!